segunda-feira, 4 de abril de 2011

Crônicas de Fernando Sabino.

A VITÓRIA DA
INFÂNCIA

FERNANDO SABINO


FESTA DE ANIVERSÁRIO
 Leonora chegou-se para mim, a carinha mais limpa desse mundo:
Engoli uma tampa de coca-cola.
Levantei as mãos para o céu: mais essa agora! Era uma festa de aniversário, o aniversário dela própria, que completava seis anos de idade. Convoquei imediatamente a família:
Disse que engoliu uma tampa de coca-cola.
A mãe, os tios, os avós, todos a cercavam, nervosos e inquietos. Abre a boca minha filha. Agora não adianta: já engoliu. Deve ter arranhado. Mas engoliu como? Quem é que engole uma tampa de cerveja? De cerveja, não: de coca-cola. Pode ter ficado na garganta – urgia que tomássemos uma providência, não ficássemos ali, feito idiotas. Peguei-a no colo: vem cá minha filhinha, conta só pra mim: você engoliu coisa nenhuma, não é isso mesmo? – Engoli sim papai! – Ela afirmava com decisão. Consultei o tio, baixinho: o que é que você acha? Ele foi buscar uma tampa de garrafa, separou a cortiça do metal:
O que é que você engoliu: isto... Ou isto?
Cuidado que ela engole outra. – Adverti.
Isto! – E ela apontou com firmeza a parte de metal.
Não tinha dúvida: pronto-socorro. Dispus-me a carregá-la, mas alguém sugeriu que era melhor que ela fosse andando: auxiliava a digestão.
No hospital, o médico limitou-se a apalpar-lhe a barriginha, cético:
Dói aqui, minha filha?
Quando falamos em radiografia, revelou-nos que o aparelho estava com defeito: só no pronto-socorro da cidade.
Batemos para o pronto-socorro da cidade. Outro médico nos atendeu com solicitude:
Vamos já ver isto.
Tirada a chapa, ficamos aguardando ansiosa revelação. Em pouco o médico regressava:
Engoliu foi a garrafa.
A garrafa? – Exclamei. Mas, era uma gracinha dele, cujo espírito passava muito ao largo da minha aflição: eu não estava para graças. Uma tampa de garrafa! Certamente precisaria operar – não haveria de sair por si mesma.
O médico pôs-se a rir de mim:
Não engoliu coisa nenhuma. O senhor pode ir descansado.
Engoli! – afirmou a menininha.
Voltei-me para ela:
Como é que você ainda insiste minha filha?
Que eu engoli, engoli.
Pensa que engoliu. – emendei.
Isso acontece. – sorriu o médico: - Até com gente grande. Aqui já teve um guarda que pensou ter engolido o apito.
Pois eu engoli mesmo. – comentou ela, intransigente.
Você não pode ter engolido – arrematei já impaciente: - Quer saber mais do que o médico?
Quero. Eu engoli, e depois desengoli! – Esclareceu ela.
Nada mais havendo a fazer, engoli em seco, despedi-me do médico e bati em retirada com toda a comitiva.



REUNIÃO DE MÃES

Na reunião de pais só havia mães. Eu me sentiria constrangido em meio a tanta mulher, por mais simpáticas me parecessem, e acabaria nem entrando - se não pudesse logo distinguir, espalhadas no auditório, duas ou três presenças masculinas que partilhariam de meu ressabiado zelo paterno.
Sentei-me numa das últimas filas, para não causar espécie à seleta assembléia de progenitoras. Uma delas fazia tricô, e várias conversavam, já confraternizadas de outras reuniões. O Padre-Diretor tomou assento à mesa, cercado de professoras, e deu início à sessão.
Eu viera buscar Pedro Domingos para levá-lo ao mé­dico, mas desta vez cabia-me também participar antes da reunião. Afinal de contas andava mesmo precisando de verificar pessoalmente a quantas o menino andava.
O. Padre-Diretor fazia considerações gerais sobre o uniforme de gala a ser adotado. A gravatinha é azul? ­perguntou uma das mães. Meia três - quartos? - perguntou outra. E o emblema no bolsinho? - perguntou uma ter­ceira. Outra ainda, à minha frente, quis saber se tinha pesponto - mas sua pergunta não chegou a ser ouvida.
Invejei-lhes a desenvoltura. Tive vontade de perguntar também alguma coisa, para tornar mais efetivo meu interesse de pai - mas temi aquelas mães todas voltando a cabeça, curiosas e surpreendidas, ante uma destoante voz de homem, meio gaguejante talvez de insegurança. Poderia também não ser ouvido - e se isso me acontecesse eu sumiria na cadeira. Além do mais, não me ocorria nada de mais prático para perguntar senão o que vinha a ser pesponto.
Acabei concluindo que tanta perguntação quebrava um pouco a solene compostura que devíamos manter, como responsáveis pelo destino de nossos filhos. E dispensei-me de intervir, passando a ouvir a explanação do Padre­-Diretor:
Chegamos agora ao ponto que interessa: o quinto ano. Depois de cuidadosa seleção, foi dividido em três turmas - a turma 14, dos mais adiantados; a turma 13, dos regulares; e a turma 12, dos atrasados, relapsos, irrequietos, indisciplinados. Os da 13 já não são lá essas coisas, mas os da 12 posso assegurar que dificilmente irão para frente, não querem nada com estudo.
Fiquei atento: em qual delas estaria o menino? Pensei que o Diretor ia ler a lista de cada turma - o meu certamente na 14. Não leu, talvez por consideração para com as mães que tinham filhos na 12. Várias, que já sabiam disso, puseram-se a falar ao mesmo tempo: não era culpa delas; levavam muito dever para casa, não se habituavam com o semi-internato. Uma - a do tricô, se não me engano - chegou mesmo a se queixar do ensino dirigido, que a seu ver não estava dando resultado. Outra disse que tinha três filhos, faziam provas no mesmo dia, como prepará-los de uma só vez? O Padre-Diretor sacudiu a cabeça, sorrindo com simpatia não posso nem ao menos lastimar que a senhora tenha tanto filho. E voltou a falar nos relapsos, um caso muito sério. Não vai esse Padre dizer que meu filho está entre eles, pensei. Irrequieto, indisciplinado. Ah, mas ele havia de ver comigo: entre os piores!
E por que não? Quietinho, muito bem mandado, filhinho do papai, maria-vai-com-as-outras ele não era mesmo não. Desafiei o auditório, acendendo um cigarro: ninguém tinha nada com isso. Criança ainda, na idade mesmo de brincar e não levar as coisas tão a sério. O curioso é que não me parecesse assim tão vadio - jogava futebol na rua, assistia à televisão, brincava de bandido, mas na hora de estudar o rapazinho estudava, então eu não via? Quem sabe se procurasse ajudá-lo, dar uma mão­zinha. . Mas essas coisas que ele andava estudando eu já não sabia de cor, tinha de aprender tudo de novo. Outro dia, por exemplo, me embatucou perguntando se eu sabia como se chamam os que nascem na Nova Guiné. Ninguém sabe isso, meu filho, respondi gravemente. Ah, não sabe? Pois ele sabia: guinéu! Não acreditei, fui olhar no dicionário para ver se era mesmo. Era. Talvez estivesse na turma 13, bem que sabia lá uma coisa ou outra, o danadinho.
Agora o Diretor falava na comida que serviam ao almoço. Da melhor qualidade, mas havia um problema ­os meninos se recusavam a comer verdura, ele fazia questão que comessem, para manter dieta adequada. No entanto, algumas mães não colaboravam. Mandavam bilhetinhos pedindo que não dessem verdura aos filhos.
Eis algo que eu jamais soube explicar: por que menino não gosta de verdura? Quando menino eu também não gostava.
Pedem às mães que mandem bilhetinhos e não é só isso: usam qualquer recurso para não comer verdura. Hoje mesmo me apareceu um com um bilhete da mãe dizendo: não obrigar meu filho a comer verdura. Só que estava escrito com a letra do próprio menino.
Chegada era a hora de levá-lo ao médico - uma professora amiga foi buscá-lo para mim.
Meu filho - perguntei, ansioso, assim que saímos:
Em que turma você está? Na 12 ou na 13?
Na 14 - ele respondeu, distraído. Respirei com
alívio: e nem podia ser de outra maneira, não era isso mesmo?
Fico satisfeito de saber - comentei apenas.
Ele não perdeu tempo:
Então eu queria te pedir um favor – aproveitou logo – que você mandasse ao Padre-Diretor um bilhete dizendo que eu não posso comer verdura.



PRIMEIRA COMUNHÃO
Ele estava nervoso, muito empertigado no seu terninho branco: Se colar no céu da boca o que é que eu faço?Tira com a língua – recomendei. Com o dedo não pode não?Não pode não.
Ao entrarmos no pátio da igreja, esqueceu suas preocupações e saiu correndo para juntar-se aos outros. Sob o olhar embevecido dos pais a meninada se estranhava: tolhida pelo cuidado com a roupa toda branca e muito armada, e a fita no braço, e a expectativa da cerimônia, não se expandia livremente como no recreio do colégio. Ainda assim trançavam aqui e ali entre os adultos, brincando e rindo, criticando-se mutuamente:

Você veio de luva? A professora disse que não precisava. Uê, você está de calça comprida!O padre disse que podia.Meu laço é mais bonito que o seu.O meu tem um desenhinho, olha aí.
Em pouco surgiu o vigário e os pôs em fila. Marcharam para o interior da igreja. Solenizados e hirtos, nós, os cavalões, também elegantemente ajaezados, nos postamos ao redor, prestando atenção na missa, como se nada estivesse acontecendo. Mas andava no ar o inquietante silêncio de algo precioso que estava para nos acontecer e que poderia escapar-nos, como uma palavra apenas sussurrada e de novo perdida. E a todo instante olhávamos disfarçados os nossos filhos, com a benevolente compreensão de quem lembra já ter vivido momento semelhante e teme não merecer sua renovação e teme não merecer sua renovação ao menos na lembrança. Eu, evidentemente, só tinha olhos para um menino no segundo banco, repetindo com os outros o ritual que o padre lhe ensinara, preparado para a sua primeira grande aventura.
De súbito um imprevisto ameaçou perturbar a cerimônia: uma voz de homem, alta e mal articulada. Irrompeu lá detrás e o bêbado veio avançando, vacilante, até se deixar cair sentado no banco a meu lado. Era um preto de camiseta de meia, sem mangas, provavelmente operário de alguma construção vizinha, e àquela hora da manhã já (ou ainda) estava no maior pileque deste mundo. Resmungou qualquer coisa e correu os olhos baços ao redor, sem ver nada. Várias cabeças se voltavam, apreensivas, como a pedir que eu fizesse alguma coisa – e eu não sabia o que diabo se deve fazer numa circunstância dessas.

Psiu, companheiro, fique quietinho aí – sussurrei-lhe, temendo que ele reagisse, para agravar a situação. Limitou-se, porém, a olhar-me com desprezo e engrolar duas ou três palavras desastrosamente gritadas. Depois se pôs a falar em voz alta:

Sou católico apostólico romano. Sou muito amigo de Nosso Senhor Jesus Cristo.
O vigário deixou os meninos e veio de lá passar-lhe um pito, mas de nada adiantou: em pouco tempo ele recomeçava a falar. Até o celebrante, em meio à Missa, parecia perceber que algo de anormal acontecia.

Vamos até ali fora – saltou de repente uma voz, e o preto foi empolgado pelo braço, carregado para fora como uma criança. Olhei com admiração o autor da façanha, que já voltava, livre do importuno: era um dos pais, o mais corpulento, cuja autoridade se fizera exercer de maneira tão categórica, a que até a mim intimidou, como se eu fosse também responsável pela perturbação da ordem. E a ordem voltou a reinar dentro do templo.

Eu não sabia que na igreja também tinha leão de chácara – gracejou ainda uma senhora a meu lado.
O incidente me distraiu, fiquei pensando no preto atirado na rua. Ele estava inconveniente, não tinha dúvida, mas podia ser que fosse mesmo amigo de Nosso Senhor Jesus Cristo, e neste caso foi bom que eu não me tivesse metido.
Chegou enfim o momento. Um a um os meninos, cuidadosamente ensaiados, deixaram seus lugares e depois foram voltando sérios e contritos. Por um instante me deixo levar pela emoção, o coração se enternece e a lembrança procura recolher, sôfrega, o que possa guardar desse dia e que durante algum tempo me sustente em esperança de renovarme. Há por que esperar: aquele menino ali no segundo banco, olhos baixos e de mãos postas, deve ter no momento mais prestígio que ninguém lá em cima e talvez se lembre de rezar pelo pai, que anda precisando muito.
Depois houve um lanche no pátio, com café e farta distribuição de sanduíches.



O MELHOR AMIGO


A mãe estava na sala, costurando. O menino abriu a porta da rua, meio ressabiado, arriscou um passo para dentro e mediu cautelosamente a distância. Como a mãe não se voltasse

Para vê-lo, deu uma corridinha em direção de seu quarto.
Meu filho? – gritou ela.
O que é – respondeu, com o ar mais natural que lhe foi possível.
Que é que você está carregando aí?

Como podia ter visto alguma coisa, se nem levantara a cabeça? Sentindo-se perdido,tentou ainda ganhar tempo.
Eu? Nada...
Está sim. Você entrou carregando uma coisa.

Pronto: estava descoberto. Não adiantava negar – o jeito era procurar comovê-la.Veio caminhando desconsolado até a sala, mostrou à mãe o que estava carregando:

Olha aí, mamãe: é um filhote...
Seus olhos súplices aguardavam a decisão.

Um filhote? Onde é que você arranjou isso?
Achei na rua. Tão bonitinho, não é, mamãe?

Sabia que não adiantava: ela já chamava o filhote de isso. Insistiu ainda:
Deve estar com fome, olha só a carinha que ele faz.
Trate de levar embora esse cachorro agora mesmo!
Ah, mamãe... – já compondo uma cara de choro.
Tem dez minutos para botar esse bicho na rua. Já disse que não quero animais aqui em casa. Tanta coisa para cuidar, Deus me livre de ainda inventar uma amolação dessas.

O menino tentou enxugar uma lágrima, não havia lágrima. Voltou para o quarto, emburrado:
A gente também não tem nenhum direito nesta casa – pensava. Um dia ainda faço um estrago louco. Meu único amigo, enxotado desta maneira!

Que diabo também, nesta casa tudo é proibido! – gritou, lá do quarto, e ficou
esperando a reação da mãe.
Dez minutos – repetiu ela, com firmeza.
Todo mundo tem cachorro, só eu que não tenho.
Você não é todo mundo.
Também, de hoje em diante eu não estudo mais, não vou mais ao colégio, não
faço mais nada.
Veremos – limitou-se a mãe, de novo distraída com a sua costura.
A senhora é ruim mesmo, não tem coração!
Sua alma, sua palma.

Conhecia bem a mãe, sabia que não haveria apelo: tinha dez minutos para brincar com seu novo amigo, e depois... ao fim de dez minutos, a voz da mãe, inexorável:
Vamos, chega! Leva esse cachorro embora.
Ah, mamãe, deixa! – choramingou ainda: - Meu melhor amigo, não tenho mais
ninguém nesta vida.
– E eu? Que bobagem é essa, você não tem sua mãe?
– Mãe e cachorro não é a mesma coisa.
– Deixa de conversa: obedece sua mãe.

Ele saiu, e seus olhos prometiam vingança. A mãe chegou a se preocupar: meninos nessa idade, uma injustiça praticada e eles perdem a cabeça, um recalque, complexos, essa coisa

– Pronto, mamãe!
E exibia-lhe uma nota de vinte e uma de dez: havia vendido seu melhor amigo por trinta dinheiros.

– Eu devia ter pedido cinqüenta, tenho certeza que ele dava murmurou, pensativo.



O REVÓLVER DO SENADOR

O Senador ainda estava na cama, lendo calmamente os jornais, e eram dez horas da manhã. Súbito ouve a voz do netinho de quatro anos de idade por detrás da folha aberta, bem junto de sua cabeça:

– Vovô, eu vou te matar.

 Abaixou o jornal e viu, aterrorizado, que o menino empunhava com as duas mãos o revólver apanhado na gaveta da cabeceira.  Sempre tivera a arma ali ao seu alcance, para qualquer eventualidade, carregada e com uma bala na agulha. Nunca essa eventualidade se dera na longa seqüência de riscos e tropeços que a política lhe proporcionara. No entanto, ali estava, agora, apanhado de surpresa, sob a mira de um revólver. O menino começou a rir de sua cara de espanto.

Eu vou te matar – repetiu, dedinho já no gatilho.

O menor gesto precipitado e a arma dispararia.

Pensou em estender o braço e ao menos afastar o cano de sua testa, que já começava a porejar suor. Mas temeu o susto da criança, o dedo se contraindo no gatilho... Tentou falar e de seus lábios saíram apenas sons roufenhos e mal articulados.

– Não me mata não – gaguejou, afinal: – você é tão bonzinho...

– Pum! Pum! – e o demônio do menino sempre a rir, só fez dar um passo para trás; que o colocou fora de seu alcance. Agora estava perdido.

– Cuidado, tem bala... – deixou escapar, e a voz de novo lhe faltou. Toda uma vida que terminava ali, estupidamente nas mãos de uma criança – de que adiantara?  Tudo aflição de espírito e esforço vão. Se alguém entrasse no quarto de repente, a mãe, a avó do menino... Que é isso, menino! Você mata seu avô! Com o susto... Senti o pijama já empapado de suor. Era preciso fazer alguma coisa, terminar logo com aquela agonia. Estendeu mansamente o braço trêmulo:

– Me dá isso aqui...

– Mãos ao alto! – berrou o menino, ameaçador, dando passo para trás, e as mãos pequeninas se firmaram ainda mais no cabo da arma. O Senador não teve outra coisa a fazer senão obedecer.

E assim se compôs o quadro grotesco: o velho com os braços erguidos, o guri a dominá-lo com o revólver. De repente, porém, o telefone tocou.
– Atende aí ­– pediu o Senador, num sopro.

Estava salvo: o menino tomou do fone, descobrindo brinquedo novo, e abaixou o revólver. O Senador aproveitou a trégua para apoderar-se da arma. Então pôs-se a tremer, descontrolado, enquanto retirava as balas com os dedos aflitos. O menino começou a chorar:

Me dá! Me dá!

A mulher do senador vinha entrando:

–O que foi que você fez com ele? Está com uma cara esquisita... Que aconteceu?
– Acabo de nascer de novo – explicou simplesmente.




BIOGRAFIA DO AUTOR
Nome:
Fernando Tavares Sabino
Nascimento:
12/10/1923
Natural:
Belo Horizonte - MG
Morte:
11/10/2004

Nascido em Belo Horizonte no dia 12 de outubro de 1923, o escritor e cronista Fernando Tavares Sabino era o último vivo do quarteto mineiro de escritores integrado por Hélio Pellegrino (1924-88), Otto Lara Resende (1922-92) e Paulo Mendes Campos (1922-91). Essa amizade inspirou Sabino a escrever "O Encontro Marcado" (1956), seu livro de maior sucesso.

Além de "O Encontro Marcado", suas principais obras foram "O Homem Nu" (1960), "O Menino no Espelho" (1982) e "O Grande Mentecapto" (1979), que deu a Sabino o Prêmio Jabuti.

No início da década de 1940, começou a cursar a Faculdade de Direito e ingressou no jornalismo como redator da "Folha de Minas". Seu primeiro livro de contos, "Os Grilos não Cantam Mais", foi publicado em 1941, no Rio. Nesse mesmo ano, torna-se colaborador do jornal literário "Dom Casmurro", da revista "Vamos Ler" e do "Anuário Brasileiro de Literatura".

Em 1947, envia crônicas para serem publicadas em jornais como "Diário Carioca" e "O Jornal", do Rio, que são reproduzidas em vários veículos do Brasil. Começa a produzir os livros "Ponto de Partida" e "Movimentos Simulados" que, apesar de não serem concluídos, serão aproveitados em "O Encontro Marcado".

"O Encontro Marcado", uma de suas obras mais conhecidas, é lançada em 1956, ganhando edições até no exterior, além de ser adaptada para o teatro.

Sabino decide, em 1957, viver exclusivamente com escritor e jornalista depois de pedir exoneração do cargo de escrivão. Inicia uma produção diária de crônicas para o "Jornal do Brasil", escrevendo mensalmente também para a revista "Senhor".

Em 1960, o escritor publica o livro "O Homem Nu" na Editora do Autor, fundada por ele, Rubem Braga e Walter Acosta. Publica, em 1962, "A Mulher do Vizinho", que recebe o Prêmio Cinaglia do Pen Club do Brasil.

Termina o romance "O Grande Mentecapto" em 1979, iniciado mais de 30 anos antes. A obra, que lhe rendeu o Prêmio Jabuti, acabaria sendo adaptada para o cinema e o teatro anos depois.

Em 1991, lançou o livro "Zélia, uma Paixão", biografia autorizada de Zélia Cardoso de Mello, ministra da Economia do governo Fernando Collor (1990-92), trabalho que o autor se recusava a comentar. Acreditava ter sido vítima de hostilidade por causa dele.

Em julho de 1999, recebe da Academia Brasileira de Letras o prêmio "Machado de Assis" pelo conjunto de sua obra.

Publica em 2004 o romance "Os Movimentos Simulados", da editora Record, totalizando uma produção literária de mais de quatro dezenas de obras em 80 anos de vida.

Um dia antes de completar 81 anos, morre no dia 11 de outubro de 2004 vítima de câncer no fígado. O escritor lutava contra a doença desde 2002.

O corpo de Sabino foi sepultado ao som de canções de jazz, tradicionais em funerais de Nova Orleans (EUA), na manhã do dia 12 de outubro, no cemitério São João Baptista, em Botafogo, zona sul do Rio.

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